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Aumento do IPI: o despreparo do governo

A decisão do Superior Tribunal Federal suspendendo o aumento do IPI para carros importados até dezembro, confunde, atrapalha e em nada ajuda a imagem do Brasil perante os investidores internacionais – os quais sem regras claras colocariam o país abaixo da atual 126ª posição, obtida em pesquisa do Banco Mundial denominada “Doing Business in a More Transparent World”, cujo título se explica por si. Uganda, Bangladesh, Etiópia, Quênia, Jamaica e Kuwait estão à frente. Haiti, Timor Leste, Iraque e Afeganistão talvez nos ultrapassem em um futuro próximo.

Trago como exemplo paralelo as políticas das empresas, as quais tais como as diretrizes governamentais, precisam ser claras, transparentes e coerentes, sejam elas aplicadas a clientes, parceiros ou fornecedores. Os mais velhos talvez já tenham experimentado a sensação de trocar uma empresa com planejamento de longo prazo, processos e métodos, por outra no estilo feira livre ou banca de pastéis, sobre as quais valem algumas palavras e causos.

Imperam nestas companhias o improviso e o jogo de cintura em promoções realizadas a toque de caixa, sempre a partir da segunda metade do mês. Com base no desespero para cumprir as quotas de vendas mal planejadas, lançam mão de descontos por volume para faturarem até o último dia do mês, o qual invariavelmente mais parece um campo de batalha.

Vencida a guerra é hora de contar os mortos e feridos. Altos níveis de estoques nos parceiros, inadimplência, baixa rentabilidade e eficiência fabril, são alguns dos aspectos visíveis. A primeira metade do mês é dedicada para ajudar os parceiros a escoarem os produtos colocados forçadamente pelo próprio fabricante, os quais não raro, disponibilizam mais promoções e descontos, prejudicando a já sofrida margem.

Uma analogia com a máquina de escrever compararia um mês com uma linha. Ao final do ano, doze linhas escritas da mesma maneira, voltando o carro todo o dia 30.
Este ciclo acaba por contaminar o canal de distribuição, o qual espera sempre por melhores condições, pressionado o fabricante em troca de descontos, programas e subsídios para poder vender. Impossível pensar em oferecer valor neste cenário, cuja negociação é sempre pautada no menor preço e no maior prazo. Credibilidade, respeito, confiança e imagem são itens que em geral passam longe destas empresas, nas quais vale a máxima: o melhor negócio é sempre o próximo.

Empresas que ultrapassaram este estágio conseguem planejar em longo prazo, estabelecendo e mantendo políticas e regras de negócio que orientam, sustentam e coíbem a prática da feira livre, agindo com rigor e firmeza com seus parceiros, quando necessário. Quebrar este ciclo leva tempo, haja vista é necessário demonstrar a consistência da política, através de inovações, eficiência, ganhos de escala e margens para os envolvidos.

Não obstante a suspensão do IPI consideraria que o estrago já foi feito. Concordo que a decisão tem objetivos nobres, tais como preservar empregos e investimentos das indústrias locais, assim como entendo que outros países aplicam esta prática com frequência. Coloco em questionamento o modo apressado e abrupto com que foi implantada, claramente com base na pressão dos maiores fabricantes.

Faltaram ao governo consistência, firmeza, coerência e visão de longo prazo, avaliando as reais causas da perda de competitividade da indústria. Custo Brasil, alta carga tributária, logística precária e encargos trabalhistas não podem ser desculpas para que o consumidor tenha menos opções de escolha. Concluo lembrando que nossa presidente esteve há alguns meses atrás em solo chinês, distribuindo benefícios e subsídios para que empresários trouxessem suas plantas ao país. Mais contraditório impossível.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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