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Brasil Foods: quando a concorrência se une

A fusão da Sadia e Perdigão foi aqui analisada sob a ótica das cinco forças de Michael Porter. Poder de negociação de fornecedores, clientes, novos entrantes, produtos substitutos ou inovações e concorrentes.

A fusão ocorrida nesta última semana entre as duas maiores empresas de alimentos do país, Sadia e Perdigão, traz à tona o assunto consolidação de grandes corporações. Concentração de poder, desemprego, sinergias, globalização, redução de custos, ganhos de escala. São os pensamentos mais comuns diante de uma situação como essa.

Mal nos recuperamos do susto com o anúncio da fusão entre Itaú e Unibanco, criando o maior banco do hemisfério sul, e mais um grande processo entra em cena. As empresas brasileiras estão entrando para valer no jogo global, o qual requer tamanho, musculatura e caixa para competir.

Sindicatos, clientes e fornecedores comentam as fusões com preocupação, avaliando os possíveis impactos nos públicos de interesse e na sociedade como um todo. Para uma análise mais estruturada, utilizarei o modelo das cinco forças, concebido por Michael Porter em 1979, com o objetivo de avaliar o nível de competição numa determinada indústria.

As categorias utilizadas por Michael Porter são: poder de negociação dos fornecedores e clientes, produtos substitutos e inovações, concorrentes, e novos entrantes. No caso específico da Brasil Foods, este novo conglomerado dominará diversos segmentos do setor de alimentos, afetando em definitivo o nível de competição desta indústria.

Os clientes sentirão o impacto nas gôndolas dos supermercados. O gigante travará negociações de descontos por volume e espaço privilegiado nas prateleiras, investindo pesado em promoções nos pontos-de-venda. As grandes redes terão poder de fogo para a briga, já o pequeno varejo sofrerá na pele as conseqüências.

Quanto às inovações, poderemos notar num médio prazo certa acomodação no ritmo de lançamentos de novos produtos. Há tempos, Sadia e Perdigão lideram o mercado, cabendo às outras marcas o papel de seguidoras. Como os maiores competidores tornaram-se sócios, a antiga batalha pela preferência do consumidor deverá esfriar.

Isso quer dizer que a instigante disputa estimulada por campanhas publicitárias que se dirigiam à concorrência com desdém – como a velhinha que se consagrou com os dizeres “a outra nem a pau, Juvenal” – poderá chegar ao fim. O foco estará voltado aos players internacionais. O objetivo será o mercado externo, financiado pelo interno.

Os novos entrantes deverão concentrar-se nos mercados regionais, palco das marcas talibãs – produtos populares com foco em preços baixos. Apesar da ameaça, podem ser retaliadas com facilidade pelo novo líder. Na eventualidade de um concorrente estrangeiro, o acesso será dificultado ainda pelo controle dos produtores e canais de distribuição.

Os próximos capítulos dessa história caberão ao CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão do governo responsável por fiscalizar o abuso do poder econômico. Enquanto a decisão não vem, é bom ir se acostumando com a propaganda institucional da Brasil Foods, apresentando seu novo nome, os benefícios da fusão, e o orgulho em mais uma empresa brasileira de porte global. Tudo isso na maior paz, sem concorrência. E pensar que até a semana passada “presunto, só o melhor”…

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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