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Ferramentas colaborativas: desafio para a indústria e o governo

Esta semana será aberta a quinquagésima edição do salão do automóvel. Embora eufórica, a estréia terá de dividir as atenções com as eleições presidenciais. Isso nos faz analisar a importância das decisões políticas na indústria automobilística.

Em cinco décadas, treze presidentes subiram a rampa do Palácio do Planalto, influenciando em maior ou menor grau os rumos deste setor. Juscelino Kubitschek, o queridinho do Brasil, presenciou a montagem do primeiro fusca na antiga fábrica da via Anchieta. Sarney vivenciou a primeira morte do veículo, ressuscitado por Itamar em seu projeto de carros populares. O término oficial e definitivo foi decretado após um curto período por seu ex-ministro da fazenda e sucessor, FHC. O exibicionista Collor costumava chamá-lo carinhosamente de carroça. Talvez por ironia do destino, a medida provisória que assinou, permitindo a importação de veículos, foi a responsável pela entrada dos lendários russos da Lada, cuja entrada foi tão triunfante quanto a saída. Jango, Castello Branco, Costa e Silva e Lula completam a lista.

O fato é que o novo presidente encontrará um mercado promissor para a indústria automotiva. A estimativa da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) é de que só esse ano sejam produzidos mais de 3,8 milhões de unidades. Entretanto, a escolha de um carro novo é hoje tarefa complexa, face às centenas de opções disponíveis. Grandes, médios, compactos, álcool, gasolina, flex, elétricos, nacionais ou importados.

Este ano um novo veículo chama a atenção, não tanto pela forma, mas pela maneira pela qual foi concebido, através do conceito denominado inovação aberta ou open innovation – termo cunhado por Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Ao contrário da inovação fechada, na qual um produto é desenvolvido em segredo e guardado a sete chaves nos laboratórios das empresas, a modalidade aberta conta com a participação de outras empresas, centros de pesquisas ou até mesmo consumidores – algo inconcebível até pouco tempo atrás, em departamentos nos quais senhas, acordos de confidencialidade e revistas pessoais eram lugares comuns.

O carro conceito, propositalmente alcunhado de mio (“meu” em italiano) teve como objetivo debater entre os internautas como seria o veículo do futuro. Para colocá-lo em prática, nada melhor que utilizar as facilidades disponibilizadas pela web 2.0. Um site específico foi criado, recebendo dezenas de milhares de idéias e milhões de visitantes de diversos países. Vídeos foram postados para que os participantes pudessem acompanhar o desenvolvimento das diversas fases. Opiniões, frases, blogs e discussões também foram incentivadas, seguindo a lógica das redes sociais.

Apesar de novo no mercado brasileiro, este conceito vem sendo utilizado por diversas empresas ao redor do mundo. A farmacêutica Eli Lilly criou o portal InnoCentive em 2001, cujo objetivo era lançar desafios aos internautas, através de bonificações às melhores idéias.

Os benefícios ultrapassam o campo das idéias e sugestões, trazendo às empresas visibilidade, criação de um banco de talentos e tendências sobre os desejos dos consumidores. Aos participantes, estudantes ou recém-formados, uma chance de empreenderem em situações reais.

Na política, a colaboração também tem se mostrado eficaz. Barack Obama criou um portal para que cidadãos comuns possam ajudar os órgãos da administração federal, propondo desde o compartilhamento de receitas saudáveis e nutritivas para as crianças em fase escolar até o desenvolvimento de tecnologias para a NASA, agência espacial norte-americana.

Apesar da exaltação e do ufanismo sobre os últimos oito anos, é fato que o novo ocupante da Alvorada terá muitos desafios e problemas a resolver – use tailleur ou gravata. Neste cenário, toda idéia será bem-vinda, principalmente as inovadoras. Está lançado o desafio.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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