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Liberdade no celular

Será publicada nos próximos dias a decisão da Anatel referente ao desbloqueio de celular. As operadoras estarão obrigadas a fazê-lo assim que solicitadas pelo cliente. Um celular poderá utilizar qualquer chip, independentemente da operadora. Em suma, maior liberdade aos consumidores, os quais poderão se aproveitar das promoções oferecidas por outras empresas.

É papel da Anatel – agência regulatória do setor – criar condições que estimulem a concorrência, beneficiando os cidadãos com maior poder de escolha. A mudança na lei geral das telecomunicações, viabilizando a compra da Brasil Telecom pela Oi, a portabilidade numérica e agora o desbloqueio são ações que corroboram este objetivo.

Além do descontentamento de algumas empresas, a decisão também provoca polêmica quanto aos clientes que possuem contratos com cláusula de fidelidade, assinados em troca do aparelho. Apesar do imbróglio, especialistas entendem que o contrato com a operadora limita-se somente ao serviço. O que não extingue a obrigação do assinante em cumpri-lo.

Estas estratégias utilizadas pelas operadoras para atrair consumidores, pode ser explicada através do conceito de subsídios cruzados. Chris Anderson, editor chefe da revista Wired, explora-o com maestria em seu livro “Grátis: o futuro dos preços”. Vejamos como são aplicadas no mercado de telefonia.

Quem já não se sentiu confuso, tentando entender as promoções oferecidas pelas operadoras? Um sem fim de planos, promoções e tarifas. Vamos considerar que cada empresa tenha cinco planos com dez itens em cada. Um consumidor teria duzentas opções para análise ao final do dia. Creio que nem a Anatel esperava por tanta liberdade de escolha. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Apesar dos inúmeros pacotes personalizados, o foco se encontra na oferta de minutos adicionais. Ligue para quem você gosta, para perto, para longe, para mais longe ainda. Válido hoje, nos finais de semana, até o fim do ano, para sempre. Para a mesma operadora ou se preferir, para todas. Telefones fixos, celulares ou ambos. Pague um real, cinquenta centavos ou nada. Ganhe um minuto a cada um que você falar. Ganhe cinco, ganhe dez, ganhe cinquenta, ganhe quanto quiser ou puder.

Num país em que mais de 80% dos celulares pertence à modalidade pré-paga, a disputa só poderia estar na oferta de minutos. Neste cenário, ganhará quem conseguir oferecer mais por menos. Com o desbloqueio a tendência é que esta guerra fique ainda mais acirrada. O cenário que se avizinha parece bastante próximo ao ocorrido com a internet.

Voltemos a um passado recente, quando tínhamos que pagar por um endereço de e-mail.  Assinaturas eram cobradas por um espaço que hoje mal comportaria um vídeo. Chegaram os concorrentes, ampliou-se a disponibilidade de banda larga, caíram os custos dos microprocessadores. Cenário atual. Armazenagem quase infinita e o melhor, de graça. Apagar e-mails para liberar espaço é coisa do passado. Chegará em breve o dia em que ligações serão gratuitas.

Está enganado quem pensa que as empresas o fazem por respeito ao consumidor. Estas são as novas regras do jogo, para as quais as operadoras estão adaptando seus modelos de negócios. Vale aqui o ditado que não existe almoço grátis. Alguém sempre pagará pelos serviços gratuitos, seja o próprio ou outras pessoas que desejarem algo diferenciado. Acesso a internet de alta velocidade, caixa postal, envio de SMS e aparelhos modernos são todos bem cobrados a quem interessar.

Vejamos outros exemplos. O ar que você coloca nos seus pneus será pago pelo combustível, a oferta arrasa-quarteirão do supermercado por um carrinho cheio de outros produtos, um ingresso grátis para seu filho pelo ingresso dos pais, a passagem de baixo custo pelo despacho das bagagens, o refrigerante grátis pelo almoço bem pago. Grátis, subsidiado ou pago. Cabe a você avaliar suas necessidades e seu bolso. Consciente você agora está.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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