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Horário eleitoral: muita promessa e nada de objetivo

Untitled-4Tedioso, monótono, cafona, brega, caricato, insensato, ridículo, mentiroso, chulo, vulgar, rústico e grosseiro são algumas palavras que me vêm a mente quando o tema é horário eleitoral gratuito. Mesmo tentando fugir dos candidatos como o diabo foge da cruz, algumas vezes sou pego de surpresa, seja no rádio ou na televisão, já que não satisfeitos, invadiram os horários normais da programação, além das calçadas com seus cavaletes imundos.

Seus personagens, em especial os candidatos a deputado, mais parecem ter saído de um show de calouros, seja pela aparência ou oratória de dez segundos, cuja restrição certamente têm salvo alguns que mal saberiam falar algo além do próprio nome, preferindo associar-se a sinônimos como borracharia, farmácia, açougue, sindicato, motoboy, cabelereiro, papelaria e garçom. Saliento que nada tenho contra as profissões dos candidatos ao sonho de Tiririca.

De outro lado temos aqueles um pouco mais bem preparados, candidatos ao senado, governo e presidente. Com mais tempo disponível, gastam nosso precioso tempo em críticas à gestão alheia, feitos do passado e promessas, aliás, muitas promessas. Curioso, fui buscar seu significado no dicionário e pasmem, além de políticos são também infiéis, injustos, descompromissados e quiçá, tenham suas almas perdidas queimadas no purgatório.

Promessa: pro.mes.sa lat promissa) 1 Ato ou efeito de prometer. 2 Declaração pela qual alguém se obriga, pela fidelidade e pela justiça, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. 3 pop Aquilo que se faz ou omite em honra de Deus, dos anjos, dos santos e até das almas do purgatório. 4 Asseguração expressa em que se baseia determinada expectativa; compromisso.

Não obstante alguns progressos obtidos, tal qual a lei da ficha limpa, a qual afastou a possibilidade de um tiroteio ao vivo, sugeriria para as próximas eleições a lei da promessa cumprida, cujo objetivo seria fazer com que os candidatos pensassem um pouco mais nas obscenidades proferidas em rede nacional de televisão. Vale salientar que promessa me lembra sonho e há uma diferença muito grande entre um sonho e uma meta ou objetivo.

Como executivo, sou avaliado não apenas pela qualidade e criatividade de minhas propostas, mas principalmente por sua execução dentro do prazo e com os recursos previamente disponíveis. Em geral uma bom projeto deve ser: especifico, mensurável, atingível, realista e com tempo definido, cujos critérios são sabatinados e escrutinados antes de sua aceitação. Vale mencionar que nunca, em meus vinte anos de vida corporativa, escutei a palavra promessa.

Extinguir, aniquilar, dizimar e exterminar a corrupção, o trânsito nas grandes metrópoles, a violência urbana, o analfabetismo, o desmatamento, o desemprego, a seca no Sertão e em São Paulo, os problemas de saúde, a desigualdade social, as férias de 60 dias dos senadores, as benesses dos deputados, a burocracia e a teia dos impostos são algumas das propostas. Isto soa para vocês mais como meta, objetivo ou sonho?

Como analogia, fui buscar na mitologia grega alguns dos 12 trabalhos de Hércules a seguir: matou a Hidra de Lerna, uma serpente com corpo de dragão e nove cabeças, perseguiu correndo durante um ano a Corça de Cerinéia, limpou em um dia os currais do rei Augias, que continha três mil bois e há trinta anos não eram limpos e matou o gigante Gerião, monstro de três corpos, seis braços e seis asas. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Enfim, como nossa história nem de longe se compara a mitologia grega, o jeito é nos conformarmos com nosso próprio arcabouço de personagens folclóricos. Uma presidente que mais se parece com a Cuca, assustando os mercados financeiros e uma rival que sempre esteve mais preocupada com a defesa das matas, missão de Curupira, mãe d`água, boitatá e Saci–Pererê. Quem sabe ai já não temos algumas indicações para um eventual ministério?

Por Marcos Morita

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.