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As heranças da crise financeira mundial

Independentemente do término da crise, as empresas aprenderam a ter p.a.c.i.ê.n.c.i.a com a crise mundial: planejamento, análise, cenários, inovação, estoques, networking, custos, índices e antenadas são as novas palavras de ordem. Junte as primeiras letras de cada palavra e conseguirá boas dicas de como conseguir p.a.c.i.ê.n.c.i.a.

A crise financeira mundial, representada simbolicamente pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, está prestes a completar um ano. Economistas apregoam cenários azuis, cinzas e até negros. As opiniões se dividem. Os otimistas dizem que a crise já é coisa do passado, os céticos que ainda é cedo para comemorar e os pessimistas que ainda há outro fundo do poço a se atingir.

Independentemente de quem estiver certo, como estudioso de estratégias empresariais, posso avaliar algumas heranças deixadas às empresas e empresários que sofreram com este turbulento período. Em linhas gerais, posso dizer que a principal lição aprendida foi a da importância da p.a.c.i.ê.n.c.i.a na condução dos negócios. A economia aquecida, o consumo desenfreado e a oferta de crédito abundante dos últimos anos fizeram com que ela fosse deixada de lado em muitas ocasiões. Vejamos então letra a letra o significado dessa estratégica palavra.

Quem se ocuparia em planejar, numa situação em que qualquer produto oferecido era vendido aos milhares? Agora, com tempo de sobra e um cenário bem menos generoso, os gerentes avaliam os impactos causados pela retração econômica em sessões exaustivas de PLANEJAMENTO. Coisa que havia ficado em segundo plano quando tudo ia tão bem.

Vendiam-se a todos sem distinção. Construção, indústrias, varejo, comércio, ninguém tinha a preocupação em conhecer as características específicas de cada mercado. A crise, porém, afetou de maneira diferenciada os setores da economia, obrigando as empresas a ANALISAR as necessidades particulares de cada segmento.

E quando só há boas notícias, só há um cenário, o otimista. Os empresários contaminados por este clima de bem-aventuranças se esqueceram de criar planos de contingências para eventuais mudanças de rumo. O vento mudou e as empresas tiveram que conviver com CENÁRIOS bem distintos dos que eram previstos. A lição que fica aqui é que, por melhores que as coisas estejam, elas podem mudar. Por isso, tenha sempre um plano B.

Produtos medianos e serviços medíocres encontravam espaço para se manterem vivos. Com a diminuição da oferta, muitos já fecharam as portas ou o farão em breve. A INOVAÇÃO através de produtos ou serviços é a chave da sobrevivência. Mas parece que muita gente se esqueceu disso. E agora sofrem.

Para que um canal funcione de maneira adequada, os consumidores puxam as mercadorias, enquanto os fabricantes empurram.  Com a chegada da crise, consumidores pararam de puxar enquanto fabricantes ainda empurravam os últimos pedidos, aumentando os estoques e a inadimplência dos canais. Os fabricantes aprenderam a duras penas que gerenciar ESTOQUES é a única garantia de recebimento.

Executivos deixaram carreiras consolidadas e posições confortáveis, aproveitando o bom momento para aumentar seu pacote de benefícios. Hoje alguns destes profissionais procuram novas oportunidades, considerando boa opção o salário que tinham na antiga empresa. Aqueles que mantiveram seu NETWORKING, ou rede de relacionamentos, estão mais preparados para se recolocar em tempo de vagas magras.

Viagens em classe executiva, jantares com clientes, confraternizações são luxos de um passado recente. O assunto do momento é o controle de CUSTOS, sejam eles variáveis ou fixos. Apesar da redução nas contratações, controllers continuam em alta. Quem aproveitou, aproveitou.

Outro assunto da moda são os INDICADORES. Produtividade, cobertura de mercado, penetração, adoção, contas a receber, giro de inventário, retorno sobre investimento, prazo médio de pagamento, inadimplência. Ferramentas excelentes, reincorporadas à força ao vocabulário de muitos executivos não financeiros.

No afã de venderem cada vez mais, muitas empresas se distanciaram do mercado e de seus consumidores.  Deixaram de perceber que as redes sociais são ótimas ferramentas para que as empresas estejam ANTENADAS com seu público-alvo, antecipando tendências e utilizando suas críticas e sugestões para corrigir a rota atual e até para descobrir novas. Tudo rápido e online.

Por mais doloroso que tenha sido para alguns, a tal p.a.c.i.ê.n.c.i.a foi crucial para a superação desse momento tão conturbado. Toda situação difícil sempre nos traz a oportunidade de aprender. Crises são ímpares para se refletir, analisar, tirar planos da gaveta, mudar. Aos que não quiseram aproveitar para amadurecer, só resta desejar que tenham p.a.c.i.ê.n.c.i.a.

escrito por Marcos Morita

Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

Sobre o Autor: Marcos Morita

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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